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Nas eleições municipais, muitas personalidades do esporte não se elegeram. Denúncias de corrupção e administrações pouco eficientes estão entre os motivos

Reportagem
12 de outubro de 2012
09:00
Este artigo tem mais de 11 ano

Nas eleições municipais do último domingo (7), o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, candidato a vereador em São Paulo pelo Pc do B (Partido Comunista do Brasil) recebeu 19.739 votos, cerca de 0,35% dos votos válidos. Não se elegeu para o cargo.

Silva pediu demissão em outubro do ano passado após ser envolvido em acusações de desvio de dinheiro público do programa Segundo Tempo, do Ministério sob seu comando, que repassava verbas a ONGs para disseminar a prática esportiva entre os jovens. Segundo as acusações, o ex-ministro escolhia as entidades que receberiam o dinheiro cobrando 20% das verbas que seriam repassadas a elas.

A Controladoria Geral da União determinou que R$ 50 milhões do Segundo Tempo voltassem aos cofres públicos, pois teriam sido desviados. O Supremo Tribunal Federal abriu um inquérito ainda no ano passado e o Ministério – hoje sob comando de Aldo Rebelo (também do PCdoB) – abriu uma sindicância interna para apurar os fatos.

Assim como ele, outras figuras do esporte também se candidataram a cargos públicos e saíram derrotados: foram envolvidos em denúncias de corrupção. polêmicas ou então traziam a marca de atuações em cargos públicos sem grandes realizações.

Um exemplo é o da atual presidente do Flamengo, Patricia Amorim, que tentava seu quarto mandato seguido como vereadora do Rio de Janeiro. Ela recebeu 11.687 votos e ficou na 19ª colocação no quadro de seu partido, o PMDB. Ocupando uma vaga na Câmara desde o ano 2000, ela perdeu quase metade dos votos em relação à eleição de 2008.

Presidente do clube desde 2009, a ex-nadadora (28 vezes campeã brasileira) foi denunciada no mês passado por uma reportagem  dos jornalistas Lúcio de Castro e Gabriela Moreira, da ESPN Brasil, por ter nomeado em seu gabinete de vereadora pelo menos 25 pessoas ligadas ao clube carioca ou à sua família. Entre os nomeados estaria o presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, conhecido como “Capitão Léo”. Ribeiro, ex-líder de torcida organizada, esteve empregado no gabinete entre 2003 e 2007, com salários entre R$ 4 mil e R$ 7 mil, segundo a matéria. Segundo o estatuto do clube, o Conselho Fiscal deveria ser “um órgão independente” para monitorar as ações da presidência.

Patrícia confirmou os fatos e disse não ver conflito de interesses nessa situação.

Papo de anjo

Sempre no páreo da disputa informal da torcida corintiana pelo cargo de maior nome que já vestiu a camisa do time, Marcelinho Carioca também tentou uma vaga de vereador em São Paulo pelo PSB. Na campanha, usou várias vezes o nome do ex-clube; até o número que usou (40.777) remete ao número 7 da camisa que vestia quando jogador. Seu slogan de campanha era: “Louco por ti e fiel!”, lembrando um dos gritos mais populares da torcida corintiana.

Apesar de todo o apelo, a condição de ídolo alvinegro não garantiu uma votação expressiva. Ele teve 9.729 votos, ficou em 28º lugar no quadro de sua coligação, que elegeu 15 nomes na Câmara. Para garantir votos dos torcedores, o “Pé de Anjo” como era aclamado pela torcida, usou depoimentos do técnico do Corinthians, Tite, e de atuais ídolos do time, como Alessandro, Paulinho e Emerson Sheik.

Segundo matéria publicada pelo repórter Bruno Thadeu, do Uol, Marcelinho teria enganado o treinador e os atletas, dizendo que os depoimentos seriam usados em escolas e palestras ligadas a um projeto social, e não para fins eleitorais. Marcelinho reconheceu um “engano” da produtora no caso do uso da imagem de Tite.

Essa foi a segunda tentativa do “Pé de Anjo”. Em 2010, Marcelinho concorreu ao cargo de deputado federal pelo PSB. Na ocasião, conseguiu votação suficiente para ser suplente de Abelardo Camarinha. Camarinha tirou licença do cargo por 130 dias e Marcelinho abdicou do direito de assumir a vaga, deixando-a para a terceira suplente.

Divino

Outro candidato derrotado nas urnas foi o ídolo palmeirense Ademir da Guia , conhecido pela torcida como “divino” (veja entrevista com ele feita pelo Copa Pública). O ex-atleta foi vereador em São Paulo entre 2004 e 2008. Eleito pelo PCdoB,

passou para o PR, de orientação política praticamente oposta, depois de nove meses de cargo. Na Câmara, apresentou 77 projetos de lei como autor e coautor. Apenas seis foram relacionados ao esporte. Quase um terço de suas propostas (25) foram para a concessão de títulos honorários (cidadão paulistano, etc.) ou nomeação de logradouros públicos (ruas, praças, etc.).

Entre os seus projetos estão a criação da semana da conscientização odontológica; a proibição do uso de aparelhos sonoros nos veículos de transporte coletivo; a obrigatoriedade de empacotadores nos supermercados; e a distribuição de cestas básicas para pessoas idosas; e a reprodução da bandeira nacional nos uniformes dos estudantes da rede municipal de ensino.

Ademir da Guia recebeu 14.345 votos e foi o sexto no quadro de seu partido, que elegeu três nomes.

Eleitores mais conscientes?

Para o professor do Departamento de Política da PUC-SP, Lúcio Flávio de Almeida, a explicação para a rejeição aos boleiros nas últimas eleições não significam que os eleitores estão punindo candidatos com denúncias de má conduta.

Almeida analisa os exemplos de Orlando Silva e Patricia Amorim: “No caso dela, pode ter muito mais a ver com a crise do Flamengo do que com a corrupção. Além disso, como presidente do Flamengo, dificilmente os torcedores rivais votariam nela. Logo, ela tinha um eleitorado mais cativo entre a torcida rubro-negra. À medida que o Flamengo naufraga, o eleitor a abandona”, afirma. “Já Orlando Silva saiu como candidato pelo PCdoB, que tem pouca expressão em São Paulo. Em São Paulo os eleitores tucanos promoveram muito o julgamento do mensalão. Orlando Silva foi ministro do governo Lula e tem essa associação”.

No entanto, o especialista avalia que o eleitor percebe quando os candidatos têm poucas propostas. Palmeirense, ele comenta o mau desempenho de Ademir da Guia: “Eu tenho a impressão de que o caso dele, sim, foi de total falta de credibilidade. A propaganda dele era muito vinculada ao futebol. Ele fazia ‘embaixadinha’. Mas não se colocou com uma proposta do tipo: ‘Eu quero lutar pelo esporte’”, explica. “E para piorar o Palmeiras está na situação em que está.”

Lúcio Flávio de Almeida se diz ainda cético com relação ao voto consciente: “Ainda sou muito crítico com esse momento eleitoral do país, e acho que há muita gente comemorando uma certa mudança com relação a isso. Mas o que predomina é uma perspectiva moralista nas eleições.”

Para acompanhar

Entre as figuras ligadas ao futebol eleitas ou reeleitas para vereador no Brasil estão: Washington (ex-atacante de Fluminense e São Paulo) em Caxias do Sul (RS), Marco Aurélio Cunha (ex-superintendente de futebol do São Paulo) em São Paulo, Tupãzinho (ex-atacante do Corinthians) em Tupã (SP), Paulo Rink (ex-atacante do Atlético-PR) em Curitiba, Vandick (ex-atacante do Paysandu) em Belém e Tarcísio (ex-meia do Grêmio).

Para marcar em cima dessas figuras em suas vidas públicas, visite os sites das Câmaras municipais de cada cidade. Todos os projetos apresentados podem ser  acompanhados buscando pelo nome do vereador, e você pode também cadastrar seu email para receber informes periódicos. Agora, com a Lei de Acesso à Informação, cada uma das Câmaras  tem o dever de informar sobre o andamento de propostas, presença do seu candidato no plenário, e gastos com pessoal. É só fazer valer seu direito entrando em contato com elas.

 

O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.

 

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